Como não surtar diante dos desafios climáticos?

É uma conversa difícil essa sobre as possibilidades de, nós, reles mortais conseguirmos modificar ou frear as consequências das mudanças climáticas em curso. Entendo esse distanciamento como um tiro pela culatra da forma como a comunicação vem sendo conduzida e esclareço.

Não é difícil esbarrar na enxurrada de notícias numa linguagem mais “ativista” (me perdoem se não uso o termo adequado aqui) em que todas as ações parecem demasiadamente desafiadoras, quase opressoras eu diria. Ora: globais, emergências, políticas públicas, zerar desmatamento e por aí vai. Eu não consigo nem zerar os boletos mensais da minha conta, quiçá zerar qualquer coisa a nível planetário! Fácil ou quase inevitável responder a essa informação com um gingado bem a moda capoerista que todo brasileiro sabe fazer bem.

Nós se esquivando das informações difíceis de engolir. (Fonte: Foto de alexandre saraiva carniato: https://www.pexels.com/pt-br/foto/2-homens-fazendo-capoeira-na-grama-2049755/)

Como bióloga, compreendo  a urgência e o caráter dramático das chamadas para ação e também entendo para qual público ela é, de fato, direcionada. Por certo precisamos fazer tudo isso se quisermos minimizar ou suavizar os efeitos extremos que virão. O problema é que essa comunicação não fala com todos. Não cria as pontes necessárias. E pior, vai na contramão do que precisamos: pessoas informadas e ativas e não pessoas ansiosas e paralisadas.

Veja. Não é que a comunicação esteja necessariamente errada. Mas, num contexto de uma sociedade imediatista e protegida em bolhas de informação e endorfina das redes sociais, qualquer provocação para mudança soa como uma afronta. E aí, aquela mente viciada em doses generosas de coisas gostosinhas, se acua e se acomoda no: – ah! Os políticos precisam fazer alguma coisa!! A mim, basta fazer boas escolhas dos meus representantes.

Esclarecido a lógica dos meus argumentos, então bastaria que assumíssemos as rédeas dos nossos pensamentos esquivos e estaríamos rumo a um mundo melhor?? Bem, não seria obviamente, tão simples assim, como de fato não é simples trucar a mente o tempo todo para assumir postura de adultos e responsáveis que somos. Mas o simples fato de reconhecer e adotar uma postura alerta e proativa faz toda diferença no adulto funcional que precisamos que todos sejam!

Se a casa está uma bagunça o ambiente não está receptivo para acolher todos os estados emocionais da nossa rotina atribulada de afazeres, não é mesmo? Ao contrário, a falta de organização atrai outro inimigo ineficiente que é a procrastinação e a sobrecarga. Como resultado a bagunça prolifera e ficamos cada vez mais diminuídos perante ao desafio grandioso de “arrumar a casa”.

Uma imagem com um rolo de papel com apenas uma pontinha do papel higiênico e um recado: não entre em pânico. Uma sátira a condição submissa que ficamos frente a grandiosidade climática
Fala se não é mais ou menos assim que nos sentimos frente aos desafios climáticos futuros? (fonte: Foto de Markus Spiske: https://www.pexels.com/pt-br/foto/nao-entre-em-panico-com-o-texto-em-papel-higienico-3991795/ )

Então façamos o possível. Primeiro uma gaveta, depois uma vassourada e assim vamos assumindo o controle da situação. É assim que vejo que podemos construir um mundo possível. Nem vítimas oprimidas do sistema. Nem super heróis capazes de zerar as emissões atmosféricas. Sim. Estou aqui também na missão de encorajar a todos, talvez mais do que nunca, a mim mesma e constantemente.

Eu não vim a esse mundo a passeio. Eu quero cuidar dessa casa que é a única que temos e que é lindamente azul lá entre tantos planetinhas nessa imensidão do espaço! Para ajudar, escrevi um livro infantil que aborda a questão da ansiedade climática e como ela pode estar afetando crianças pequenas. Espero ajudar os jovens a não ficarem paralisados em uma escassez de futuro. Vamos juntos?

Marina Xavier da Silva

Bióloga graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo – USP. Iniciou sua carreira no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, onde trabalhou por 13 anos, nove deles dedicados à coordenação de um projeto para conservação da onça-pintada no Brasil e Argentina. Mãe da Lia e da Cléo.

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