DÊ UM BASTA A SUA VERSÃO IMPOSTORA!

Toda vez que estamos passando por uma fase longa de baixa endorfina (hormônio associado ao bem-estar) a nossa versão impostora surge com mais força e nos faz ameaças contundentes: – Aonde você vai com isso? – Vai demorar muito para ter resultado? – Isso não te faz feliz, abandone! E coisas do gênero…

Uma mão em sinal de basta com o corpo desfocado ao fundo

Aliás se a nossa versão impostora tivesse aparência, ela seria bem austera, rígida e carrancuda porque a ela lhe falta várias faculdades empáticas e de amadurecimento. É que a nossa versão impostora é bem viciada em mimos imediatos. Sim! Ela é mimada e do pior tipo: birrenta. Então, fique atenta a sua versão impostora. Olhe para ela com a mesma cara feia que ela lança a você toda vez que você lhe deixa tempo suficiente de escanteio.

Esse tempo (o da invasão e permanência da versão impostora de nós mesmos) é extremamente variado para cada pessoa. De forma muito simplista, o que determina o tempo que gastamos “tomando chá” com ela é a nossa personalidade e nossas vivências diárias. Mas existem algumas fases que consideramos válido “dar morada” a impostora mais tempo do que ela merecia.

Me refiro a certas fases “temporárias” das nossas vidas como:

fase de filhos pequenos (para as que são mães)
Transição de carreira
Preparativos para participar de uma prova física de alto rendimento
Preparativos para um concurso concorridíssimo

Nesse momento, a versão impostora não deveria ser tão ouvida. Dar espaço a suas artimanhas e interesses pode ser muito danoso e contraproducente.

Uma pessoa em frente ao computador com as mãos no rosto e vários pensamentos confusos ilustrados ao fundo

Claro, é impossível controlar quando vamos nos deparar com a impostora, mas é certo que ela costuma achar brechas claras na ausência de recompensas rápidas de prazer.

Esses momentos da vida “de preparo” de algo, e que geralmente, vão resultar em grandes conquistas ou melhorias de vida (a sua própria ou de alguém) requerem a compreensão de ausência ou baixíssimo momentos de prazer. Ou seja, longos períodos de desagrado a impostora.

Existe, todavia, um caminho possível para tentar despistá-la, ou ao menos, garantir que as brechas por onde ela consegue passagem sejam cada vez menores. Ora, para que não haja cadeira para a impostara se sentar, é preciso “servir chá” para uma convidada mais sensata, equilibrada e simpática no trato conosco.

É preciso conversar com as nossas virtudes e valores. São eles que costumam lapidar as nossas expectativas de forma que não nos coloquemos em comparação nem à deriva da manipulação covarde da impostora.

Claro que não estamos negando a importância e necessidade dos momentos de prazer, mas não podemos confundi-lo como o saqueador da nossa felicidade.

O que estamos fazendo ao ouvir a impostora e suas imposições de cobrança por quitutes efêmeros de prazer é, na realidade, uma afronta direta a nossa outra convidada. É uma inversão de valores. Estamos interpretando que na ausência de momentos frequentes de prazer, somos infelizes. Olha só o perigo de “servir chá” para a convidada errada!

Sei que é desafiador, mas cada vez que alimentamos a impostora, mais sedenta por mimos constantes ela fica. Por outro lado, treiná-la a um “jejum forçado” parece saciá-la de fazer seus julgamentos e críticas tão perversos a nós mesmos. Agora vai outra dica:

reconheça e enalteça cada vez que você não der voz a sua versão impostora. A reafirmação da sua autoestima é ocupação de cadeira que impostora não se senta!

Bora tomar chá com quem valoriza o que há de melhor na gente?

Uma xícara de chá é segurada pelas mães de uma pessoa

Marina Xavier da Silva

Bióloga graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo – USP. Iniciou sua carreira no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, onde trabalhou por 13 anos, nove deles dedicados à coordenação de um projeto para conservação da onça-pintada no Brasil e Argentina. Mãe da Lia e da Cléo.

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