Toda vez que estamos passando por uma fase longa de baixa endorfina (hormônio associado ao bem-estar) a nossa versão impostora surge com mais força e nos faz ameaças contundentes: – Aonde você vai com isso? – Vai demorar muito para ter resultado? – Isso não te faz feliz, abandone! E coisas do gênero…
Aliás se a nossa versão impostora tivesse aparência, ela seria bem austera, rígida e carrancuda porque a ela lhe falta várias faculdades empáticas e de amadurecimento. É que a nossa versão impostora é bem viciada em mimos imediatos. Sim! Ela é mimada e do pior tipo: birrenta. Então, fique atenta a sua versão impostora. Olhe para ela com a mesma cara feia que ela lança a você toda vez que você lhe deixa tempo suficiente de escanteio.
Esse tempo (o da invasão e permanência da versão impostora de nós mesmos) é extremamente variado para cada pessoa. De forma muito simplista, o que determina o tempo que gastamos “tomando chá” com ela é a nossa personalidade e nossas vivências diárias. Mas existem algumas fases que consideramos válido “dar morada” a impostora mais tempo do que ela merecia.
Me refiro a certas fases “temporárias” das nossas vidas como:
Nesse momento, a versão impostora não deveria ser tão ouvida. Dar espaço a suas artimanhas e interesses pode ser muito danoso e contraproducente.
Claro, é impossível controlar quando vamos nos deparar com a impostora, mas é certo que ela costuma achar brechas claras na ausência de recompensas rápidas de prazer.
Existe, todavia, um caminho possível para tentar despistá-la, ou ao menos, garantir que as brechas por onde ela consegue passagem sejam cada vez menores. Ora, para que não haja cadeira para a impostara se sentar, é preciso “servir chá” para uma convidada mais sensata, equilibrada e simpática no trato conosco.
Claro que não estamos negando a importância e necessidade dos momentos de prazer, mas não podemos confundi-lo como o saqueador da nossa felicidade.
O que estamos fazendo ao ouvir a impostora e suas imposições de cobrança por quitutes efêmeros de prazer é, na realidade, uma afronta direta a nossa outra convidada. É uma inversão de valores. Estamos interpretando que na ausência de momentos frequentes de prazer, somos infelizes. Olha só o perigo de “servir chá” para a convidada errada!
Sei que é desafiador, mas cada vez que alimentamos a impostora, mais sedenta por mimos constantes ela fica. Por outro lado, treiná-la a um “jejum forçado” parece saciá-la de fazer seus julgamentos e críticas tão perversos a nós mesmos. Agora vai outra dica:
Bora tomar chá com quem valoriza o que há de melhor na gente?
Marina Xavier da Silva
Bióloga graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo – USP. Iniciou sua carreira no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, onde trabalhou por 13 anos, nove deles dedicados à coordenação de um projeto para conservação da onça-pintada no Brasil e Argentina. Mãe da Lia e da Cléo.