Se você gosta da natureza, do colorido e da diversidade das aves, e gostaria de ter mais sucesso para atrair e identificar pássaros, este artigo pode te ajudar. Faz algum tempo que eu e o marido cultivamos esse hobby e gostaríamos de compartilhar algumas dicas para quem está começando ou até mesmo para os que já possuem alguma experiência no assunto.
- DICA 01: Ajuste as suas expectativas
- DICA 02: O que ofertar para atrair e identificar pássaros na sua casa?
- DICA 03: Outros visitantes que não pássaros. Como proceder?
- DICA 04: Mantenha os comedouros limpos
- DICA 05: Amplie a oferta e atraia outros pássaros
- DICA 06: Formas de atrair e identificar pássaros granívoros
- Grãos para Canários
- Dica 07: Observe e faça registros das aves
- Dica 08: Identificando aves
- DICA 09: Adquira um guia de aves
- DICA 10: Receba ajuda para identificar as aves
DICA 01: Ajuste as suas expectativas
A primeira dica é que, independente do espaço, se um quintal amplo ou a varanda de um apartamento, é preciso ter a certeza que nada será da noite para o dia. Principalmente se você se insere em uma região onde existe pouca ou nenhuma natureza ao redor.
Pode parecer bobagem, mas saber disso pode te deixar menos ansioso ou achando que fez algo errado! Além disso, é precisamente a dificuldade inicial do processo que proporciona maior satisfação quando os primeiros visitantes comparecem ao banquete tão cuidadosamente ofertado por você.
DICA 02: O que ofertar para atrair e identificar pássaros na sua casa?
Minha sugestão é que você comece pelo bebedouro. Muitas espécies urbanas comuns são nectarívoras, ou seja, se alimentam do néctar das flores. Neste grupo estão espécies lindas como sanhaços, saíras, beija-flores e cambacicas. Além de muito coloridas, essas espécies costumam aparecer mais rapidamente que as frugívoras ou granívoras.
Não há muito mistério na escolha do bebedouro. Não é caro e fora alguns adornos que diferenciam um ou outro, todos funcionam razoavelmente bem e quase nunca conseguimos evitar que possíveis problemas sejam descobertos antes de colocá-los em uso. Não é incomum que alguns fiquem vazando permanentemente por algum micro furo e que possuam falhas de encaixe. Além disso, eles ressecam ou desbotam com o tempo e você vai ter que adquirir um novo. Mas não se preocupe! Isso leva um bom tempo!
Entre as opções comumente ofertadas vocês encontrarão bebedouros com telhados ou sem telhados e com ou sem apoio para as aves. Os telhados são dispensáveis (neste caso), mas o apoio é bastante usado pelas aves, sobretudo para as que não conseguem “parar” voando como os beija-flores, mas são nectarívoras.
Bebedouros para atrair pássaros – 290 ml, com poleiro.
Bebedouros para atrair pássaros – 290 ml, sem poleiro.
A receita açucarada que fazemos consiste em uma medida de açúcar (usamos o demerara) para 2 medidas de água e adicionamos 8 gotas da vitamina comercial Vitagold (opcional). Obviamente, já temos o medidor exato para preparar uma garrafa pet de 1 litro que mantemos na geladeira.
Vamos repondo o líquido no bebedouro conforme o apetite e fluxo dos visitantes. E já vá se preparando. Se tudo correr bem, é comum que os pássaros se aproximem para reclamar a comida (a falta dela no caso!). Quando você chega nesse ponto, é quase impossível voltar atrás. E lá estamos nós comprometidos com o fluxo natural do processo de empatia. É um barato!
DICA 03: Outros visitantes que não pássaros. Como proceder?
Infelizmente nem só de pássaros lindos vivem os bebedouros. Outros visitantes, menos indesejáveis, podem identificar a fonte de recurso e disputar o precioso líquido açucarado. É o caso das abelhas, por exemplo. Infelizmente, apesar de seguir algumas “dicas caseiras” para afugentar os bichinhos, nós nunca tivemos sucesso para dissipá-las.
Nós observamos, todavia, que quando o bebedouro está ruim, vazando ou derramando líquido quando usado pelos animais, é mais fácil das abelhas aparecerem. Isso ocorre porque existe mais fontes químicas de informação para atrair as abelhas para além do líquido contido no bebedouro.
Quando a visita das abelhas é muito intensa (geralmente é um evento sazonal) nós retiramos, temporariamente, o bebedouro e aguardamos que elas percam o interesse nele. Se estiver com medo de se aproximar, apenas aguarde o período noturno, quando as abelhas já estão nos ninhos. Ao retornar, a atração dos pássaros seguirá seu fluxo de reconquista novamente. Mas é sempre mais rápido do que iniciar essa conquista como se fosse a primeira vez.
DICA 03b: Tem um louva-deus no meu bebedouro. Devo me preocupar?
SIM!!! Deve! Pode parecer um visitante inofensivo, mas ele não está ali pelo líquido açucarado. Como exímio predador, ele é um visitante oportunista, capaz de capturar e predar as aves que se aproximam para se alimentar. Veja o vídeo abaixo que demonstra a grande habilidade desse inseto.
DICA 04: Mantenha os comedouros limpos
Essa dica tem o gancho com a anterior. Aliás ela ajuda a dissipar outros visitantes que não só as abelhas. Verifique o bebedouro diariamente. Veja se ele não tem pequenas falhas e, tão logo as identifique, substitua-o. Além disso, para além da atração de outros visitantes, é necessário higienizar constantemente o bebedouro para não prejudicar ou disseminar doenças para as aves.
Nós mantemos uma escova própria para a limpeza e, muito raramente, usamos um pouco de sabão neutro na limpeza. Normalmente usamos somente água e a escova, removendo restos de fezes, frutas e outros detritos. Isso, além de ser uma preocupação respeitosa, já que estamos falando de animais silvestres, reduz bastante as chances de atrair vespas, moscas e outros insetos atraídos pelo odor dos restos de alimentos.
DICA 05: Amplie a oferta e atraia outros pássaros
Essa dica não precisa vir necessariamente após as demais. Mas todas exigem sua dedicação na limpeza e cuidado. Você pode oferecer frutas em comedouros improvisados ou comerciais. As espécies que não são especialistas, ou seja, só se alimentam de um dado tipo de recurso, aparecerão igualmente pouco a pouco.
Procure deixar este comedouro mais suspenso e, de preferência, acessível a uma boa angulação para foto. Novamente, poderá ser difícil despistar insetos, mas desde que não se tornem abundantes ou mais frequentes que as próprias aves, você não precisa se preocupar com eles.
DICA 06: Formas de atrair e identificar pássaros granívoros
Canários da terra, curiós, são exemplos de aves que se alimentam de grãos. É interessante fazer algum tipo de barreira para a chuva, neste caso. Repare que os grãos se projetam para fora da estrutura e ficariam úmidos e molhados rapidamente sem uma barreira. Isso evitará desperdício de recurso e contaminação por fungos.
Você pode fazer um improviso ou ser bem cuidadoso e caprichoso. Aqui improvisamos com um prato descartável de bolo (um improviso funcional, digamos). A profissionalização é bem pessoal e as opções no mercado são lindas de morrer! Fique livre para dar outras dicas valiosas nos comentários.
Nós já adquirimos as duas indicações de ração comercial abaixo e gostamos de ambas.
Ração para pássaros
500 g
Mistura para pássaros
500 g
Dica 07: Observe e faça registros das aves
Uma das partes mais bacanas no processo de atrair pássaros é registras as diferentes espécies que frequentam os comedouros. Algumas espécies frequentam os comedouros diariamente ao longo do ano todo. Outras espécies aparecem bem esporadicamente e em certas épocas do ano, somente. Ter zero controle sobre quem aparecerá num determinado dia é que faz essa prática tão interessante e divertida.
Neste sentido, um bom equipamento fotográfico vai te ajudar e muito! Nós indicamos um bom equipamento mesmo! Mas claro, você pode procurar algo dentro do seu orçamento. Nossa dica é que você procure algo muito bom em zoom. Porque as aves são tímidas e não gostam da gente por perto!
Quer registros incríveis e de alta qualidade? Adquira uma máquina profissional e encontre os detalhes que precisa!
Dica 08: Identificando aves
Identificar as aves é um processo muito divertido, mas um pouco desafiador no início. Algumas diferenças entre as espécies são bem sutis. É o caso do beija-flor-da-banda-branca (Chrysuronia versicolor) (à esquerda na imagem) e o besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus) que são muito parecidos e se diferenciam basicamente pelo bico vermelho do segundo (à direita na imagem!).
Muito cuidado com padrões de coloração diferenciados que podem existir entre os sexos e entre os diferentes estágios da vida ou da maturidade sexual. Podemos confundir aves jovens sem todos os padrões de coloração dos adultos.
Alguns infortúnios também pregam peças. Em casa, um beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) já apareceu sem sua cauda tão marcante (alguma briga ou fuga de predação). Na hora pensei que era uma nova ave!! Em contrapartida, a mesma espécie, no auge da sua maturidade sexual fica super colorida e esbravejando prioridade de uso do bebedouro, enquanto exibe orgulhoso seu padrão de penas iridiscentes.
DICA 09: Adquira um guia de aves
Se você chegou até aqui não posso deixar de indicar um bom guia de aves! Existem muitos disponíveis e, neste caso, nossa experiência na biologia pode ajudar muito. Procure sempre descobrir se a versão disponível num determinado marketplace é realmente a mais atualizada. Bons guias vão se atualizando com o tempo e incorporando os nomes científicos das aves na versão mais atualizada conhecida.
Guia do Tomas Sigrist é profissional!!
DICA 10: Receba ajuda para identificar as aves
Se você não pode investir num livro neste momento ou prefere algo mais prático e digital, minha dica é que você baixe gratuitamente no celular o aplicativo Inaturalist. Nele você consegue subir suas fotos, indicar uma localização e especialistas identificarão a espécie se a imagem estiver razoavelmente boa!
É um aplicativo de ciência cidadã! Qualquer pessoa pode utilizar e subir imagens de qualquer ser vivo que tenha interesse que seja identificado (não somente aves). Em contrapartida, sua informação fica disponível para conferências globais de ocorrência, sazonalidade das diferentes espécies! É uma ajuda de mão dupla! Eu super recomendo!
E então? Está pronto para iniciar sua jornada? Aventure-se! Conte comigo e conte se este post foi útil para você!
Marina Xavier da Silva
Bióloga graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo – USP. Iniciou sua carreira no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, onde trabalhou por 13 anos, nove deles dedicados à coordenação de um projeto para conservação da onça-pintada no Brasil e Argentina. Mãe da Lia e da Cléo.
Obrigada pelas dicas!