O DIA QUE O PLANEJAMENTO DE SAÍDA DO CAMPO NÃO FUNCIONOU

Perrengues de campo – se não houve danos significativos; vida que segue!!

Durante o tempo que trabalhei no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, tínhamos inúmeras incursões de campo na nossa rotina de atividade. Em 2016, eu e minha amiga Marcela, estávamos no auge do envolvimento com o trabalho de monitoramento das onças-pintadas (Panthera onca) e passávamos mais tempo dentro da floresta, instalando armadilhas fotográficas e procurando evidências dos bichos, do que fora dela. Um verdadeiro deleite para todo biólogo/veterinário que gosta de trabalho de campo

Para dar conta do serviço acumulado resolvemos, eu e Marcela, nos separarmos nas missões de campo (declaro que não se deve andar sozinho no campo!). Depois de uma apressada troca de estratégias: – eu entro antes; – vc vai por ali, - mais ou menos tal hora estaremos no ponto tal, e por aí vai… Partimos, meio aflitas com o já tarde início da jornada, e contando com a sorte para os planejamentos saírem de acordo. Afinal não tínhamos nenhuma forma de comunicação, mas estávamos confiantes que a estratégia daria certo.

Marcela iria mais longe, de quadriciclo (uma espécie de moto com 4 rodas). Eu, faria o trajeto em trilha mais fechada e a pé, mas teria a carona dela ao sair em certo quilometro da mesma estrada que ela monitorava. Pronto! Tudo parecia perfeito!

Eis que saio às 17:30 no ponto combinado e nada dela. Sem saber se ela tinha ficado para trás, se estava com problemas para achar o local de encontro, ou com problemas mecânicos com o quadriciclo, resolvo partir, afinal me restavam outros 6km de trilha para chegar até algum tipo de socorro! Deixo pra trás uma comunicação em modo analógico e começo nova caminhada, antes que escureça completamente (detalhe, estávamos tão confiantes que não carreguei nada senão o kit de monitoramento das câmeras).

Não demorou muito para toda essa luminosidade aí da foto acima (momento que resolvo voltar para buscar algum tipo de socorro), se despedir e tornar minha passada mais apressada. Era inverno e escurece rápido nessa época do ano. Eu caminhava preocupada, mas confiante nas habilidades da Marcela. Um misto de sentimentos estranhos me faziam companhia naquela caminhada solitária.

Enfim nos encontramos, às 19:00hs! Estávamos cansadas e com frio, mas felizes pelo reencontro! Então na mais pura “ogrice” (quem nos conhece, entende bem) e já satisfeita em nós enxergamos sãs, trocamos breves: – Tá tudo bem? E fomos logo ao que interessa: – Eu tenho fotos de onça e você? (em referência a checagem das armadilhas fotográficas).

Sim!! Bastou ver que não havia nenhum arranhão, nem dano material e já focamos novamente no serviço! Estávamos aliviadas com reencontro e isso bastava. Satisfeitas com nosso dia meio complicado para um feriado, mas felizes com os registros que tínhamos obtido nas armadilhas fotográficas!

Marina Xavier da Silva

Bióloga graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo – USP. Iniciou sua carreira no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, onde trabalhou por 13 anos, nove deles dedicados à coordenação de um projeto para conservação da onça-pintada no Brasil e Argentina. Mãe da Lia e da Cléo.