PASSO A PASSO DAS FLORESTAS MADURAS

Aprendizados da regeneração florestal: cada etapa é crucial para a seguinte

Um pássaro cinza segura um fruto redondo e vermelho em seu bico, no galho de uma árvore.

Quando surge uma clareira numa floresta, as novas árvores a repovoarem aquele espaço potencial seguem uma hierarquia de habilidades. As primeiras habitantes são aquelas de crescimento rápido e ávidas por luz solar. São chamadas pioneiras. Elas criam e modificam o contexto inicial. Ora veja, já não é mais apenas um grande espaço de ocupação. As novas moradoras já conseguiram alterar minimamente o solo e microclima, com suas raízes e com a ciclagem dos nutrientes. Seus galhos e copas já servem de poleiros para pássaros descansarem e, até mesmo, morarem. Um cocozinho ali; outro lá e as sementes de árvores tão preciosas vindas de lugares distantes, caem no solo daquele ambiente em formação: oxalá encontrem o contexto ideal para crescerem, frutificarem e se reproduzirem.

Novos microambientes vão, pouco a pouco, diversificando e criando cenários onde milhares de seres conseguem explorar e colonizar. Todos os espaços vão sendo preenchido com o que há de melhor e mais equilibrado em termos de aproveitamento funcional daquele ambiente. E é assim, que de forma, muito simplificada uma floresta madura se estabelece.

Agora façamos a analogia. Depois de encontrarmos ou identificarmos um vazio, pode ser um nicho de mercado pouco explorado, um espaço físico ideal para a construção de uma escola ou uma emoção/ideia fervilhante em você, não é possível tornar esse vazio um sucesso da noite para o dia. Nem mesmo um gênio seria capaz disso. Em concordância com a natureza, vamos pouco a pouco habitando o vazio com os elementos compatíveis com o contexto.

A diferença é que muitas vezes não temos consciência disso. É possível que a gente encontre o cocozinho e tire ele de lá depressa, sem saber a enorme contribuição que ele carrega. Ou que a gente cultive nosso vazio colocando a “planta de sombra” em sol pleno só porque ela nos parece perfeita e bonita. É necessário dar tempo ao tempo. Cada etapa do processo é valiosa e imprescindível para outras se tornarem evidentes, numa sucessão majestosa de acontecimentos férteis.

Uma mão humana segura uma folha de uma pequena e jovem árvore.

Agora veja. Não é só sobre pular fases, é sobre cultivar a “planta” errada, vê-la morrer ou não prosperar e colher uma grande frustração nesse processo. Lembre-se, os espaços estão sendo preenchidos e transformam o ambiente para que novas oportunidades surjam. A frustração (adicione aqui qualquer outra emoção paralisante) pode impedir a trajetória natural da transformação em curso e, neste caso, deliberadamente atrasar ou, até mesmo, aniquilar a chegada a fase madura.

Mesmo que a sucessão pareça estar fluindo e que haja consciência das minúcias e desafios do processo; ainda assim não podemos controlar os passarinhos… E o que eles estão trazendo em seus cocozinhos. Pronto! Quando se tem consciência de que é desnecessário limpar todos os dejetos e que os passarinhos vão e vem; estará bem próximo de uma transformação mais genuína e bem-sucedida. Na natureza, sem que exista interferência humana, é claro; seria inútil tentar controlar a sucessão. Dito de outra forma, apenas lance mão das pioneiras e conte com a ajuda dos passarinhos e de tudo que descontroladamente aparecer no processo! Ele está em curso!

Marina Xavier da Silva

Bióloga graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo – USP. Iniciou sua carreira no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, onde trabalhou por 13 anos, nove deles dedicados à coordenação de um projeto para conservação da onça-pintada no Brasil e Argentina. Mãe da Lia e da Cléo.

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