QUEM SÃO OS TATUS?
Tatus são mamíferos pertencentes a ordem Cingulata. Existem aproximadamente 20 espécies de tatus (informações oscilam em decorrência da revisão constante dos especialistas). Todas com ocorrência somente nas Américas. São espécies muito singulares. A começar por sua carapaça sanfonada, uma espécie de armadura flexível. De fato, a palavra tatu, vem do tupi guarani de ‘ta’ casca e ‘tu’ dura. Em espanhol, tatus são chamados de armadillos, diminutivo de armado; do latim “armatus” (armadura protetora). Ou seja, “pequenos armados” numa tradução mais simpática e que faz jus ao charme do bichinho.
A carapaça é uma estrutura óssea que cobre a cabeça, o corpo e a cauda dos tatus, com exceção de algumas espécies, pertencentes ao gênero Cabassous que não possuem carapaça na cauda, razão pela qual são chamados, popularmente, de tatus-de-rabo-mole.
Tatus são terrestres mas, acreditem, eles conseguem nadar relativamente bem. Não grandes cursos d’água, mas os pequenos sem problemas! Tatus só não voam. Que o bicho não tem nada de voador isso é óbvio, mas convenhamos que o design aquático também está longe de ser dos melhores. E se o design não mostra bem o que é, vamos falar do mais evidente: a dificuldade em dar pertencimento ao bichinho a classe mammalia. A carapaça dura não exibe nenhuma semelhança ao estereótipo fofinho de um mamífero. Mas, calma lá! Vamos dar uma chance a ele. Com um olhar cuidadoso, você consegue enxergar inúmeros pelinhos cobrindo o seu corpo.
TATUS E SUAS CARACTERÍSTICAS SURPREENDENTES
Se você precisou “forçar” muito para dar pertencimento ao tatu ao grupo dos mamíferos? Sem problemas, a gente apresenta a primeira contravenção da espécie. Para o tatu-peludo Dasypus pilosus, pelos é o que não falta. Mas não se engane, eles estão cobrindo a carapaça do animal; provavelmente uma adaptação para sobreviver às Yungas Peruanas (2000 a 3500m de altitude). Informações sobre esta espécie são bastante raras. Inexistem estudo de campo e pouco se sabe sobre as populações in situ, razão pela qual a espécie segue como DD (dados deficientes) para a IUCN, órgão responsável pela compilação do nível de ameaça das espécies globalmente
TATU-BOLA
Agora, fofinho mesmo, convenhamos, é o comportamento de se fechar feito uma bola para se proteger dos predadores. Mas, pasmem; outra contravenção! Apenas duas espécies de tatus exibem, de fato, essa estratégia como defesa: Tolypeutes matacus e T. tricinctus, popularmente chamados de tatu-bolas. Então, embora aquela “sanfoninha” da carapaça pareça ter evoluído para isso, é a estratégia de fuga e de cavar para se esconder a mais amplamente utilizada na Ordem. Tal comportamento é bastante facilitado devido a presença de garras super alongadas nas patas dianteiras; uma verdadeira pá cavadeira. E por falar em se esconder em tocas, você sabia que cada espécie de tatu constrói tocas de um jeito particular? Ou seja, pela evidência da toca é possível ter um palpite bastante promissor sobre o dono dela! Agora, não se iluda… Nem só de tatus, vivem as tocas! Veja esse post para saber mais sobre isso!
TOCAS DOS TATUS E A MENOR ESPÉCIE DE TATU EXISTENTE
Tocas são fundamentais para esses animais. O pequeno pichi-cego (Chlamyphorus truncatus), menor espécie de tatu existente com apenas 15 cm e cerca de 100 gramas, vive praticamente o tempo todo embaixo da superfície. Mas ser pequeno e subterrâneo não é nem de longe sua característica mais marcante. Ser tatu rosa é que é! Consegue imaginar um tatu com carapaça rosa? Claro! Em se tratando de tatus; tudo é possível! Apenas uma fina membrana separa a carapaça do corpo do tatu sendo livre nas laterais de onde saem grandes tufos brancos. É uma espécie muito pouco conhecida, com ocorrência endêmica no sul da Argentina. Possui hábitos noturnos e alimenta-se de insetos e outros invertebrados. As garras dianteiras são tão grandes que ele caminha nas pontas delas e suas orelhas não são visíveis.
MAIOR ESPÉCIE DE TATU
E já que estamos falando de garras grandes, vamos falar do vertebrado que possui a maior garra conhecida, com 20 cm de comprimento: o tatu-canastra (Priodontes maximus). Sem dúvida nenhuma uma espécie icônica, que sempre nos remete a um Imaginarium pré-histórico. Um deleite encontrar uma espécie dessa na natureza (Quem me dera! Está na lista dos desejos!). Tanta grandeza (já houve registro de animais com 80Kg) faz jus a sua refeição principal: formigas e cupins, trazendo outra contravenção irônica, obviamente. Presente em toda América do Sul, com exceção de Chile e Uruguai, constroem tocas que são utilizadas por vários outros vertebrados, razão pela qual são denominados engenheiros da floresta.
DIVERSIDADE DE TATUS
Tem tatu pequeno, tatu gigante, tatu rosa, tatu peludo e tem também tatu preguiçoso. O pequeno tatu-piche (Zaedyus pichiy) com distribuição mais austral entre os tatus (Argentina, Chile até Estreito de Magalhães), possui o comportamento único entre os xenartros de hibernar durante o inverno e pode entrar em torpor diário durante o resto do ano. Ou seja, um tatu pra lá de preguiçoso! Para garantir a soneca prolongada, suas tocas são extensas, podendo chegar a 1.5 metros de profundidade e ficam fechadas para garantir a privacidade e proteção do bichinho. Esperto que só ele, não é mesmo?
TATU-GALINHA
Agora tatu conhecido mesmo é o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), espécie com maior distribuição geográfica e única existente no sul da América do Norte. Seu nome científico refere-se às noves bandas presentes na sua carapaça, mas, claro, há controvérsias! O tatu-galinha pode ter de 7 a 11 bandas móveis. Seu nome popular vem da cultura da caça: – o gosto da carne seria similar ao da galinha. Razão pela qual, não entendo por que não comem galinhas, e não tatus (que são protegidos por lei). Além disso, essa espécie é reservatório natural de Mycobacterium leprae, o agente causador da lepra, sendo comum também encontrar anticorpos para outra bactéria com potencial zoonótico: a Leptospira sp., causadora da leptospirose, além de outras zoonoses.
CURIOSIDADES
Algumas espécies de tatus (possivelmente todos do gênero Dayspus sp.) possuem gestações poliembrionárias, ou seja, um único óvulo fecundado dá origem a mais de um embrião (poliembrionia), gerando filhotes geneticamente idênticos e, por vezes, do mesmo sexo. Adicionalmente, foi observado um atraso (variável entre as espécies de tatus) entre o momento da fecundação e o da implantação do blastocisto o que permite que os filhotes nasçam muito tempo depois do evento da fecundação (já ouve observação de dois anos após) em períodos mais propícios para uma prole bem sucedida, por exemplo.
CONSERVAÇÃO
No Brasil existem algumas iniciativas de proteção e pesquisa direcionadas aos tatus, destacamos: Projeto tatu-canastra (https://www.giantarmadillo.org/projetotatucanastra), Programa tatu-bola (http://tatubola.org.br/), Instituto Tamanduá (http://www.tamandua.org/). Vale lembrar que o tatu-bola (T. tricinctus), espécie endêmica do Brasil, apresenta uma população em declínio. Sua inserção como mascote da copa do mundo de 2014 (o Fuleco), foi uma estratégia para chamar a atenção para o nível de ameaça que a espécie se encontra. Se você gosta do assunto e quer saber mais, não deixe de visitar essas páginas! And contribuir com a vida longa desses projetos!
PARA DIVERSÃO
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Em Procura-se! estão reunidos artigos – escritos por professores e pesquisadores de diferentes universidades do Brasil e do mundo, publicados originalmente na revista Ciência Hoje das Crianças – sobre cada um desses animais. Os autores descrevem sua aparência, seus costumes (alimentação, onde e como vivem, suas atividades diárias), sempre revelam curiosidades, além de explicar o motivo de seu possível desaparecimento e o que está sendo feito para evitar que isso aconteça. Mesmo sendo bastante informativos, os textos têm linguagem acessível e atraente para as crianças.
Você precisará usar sua memória para colocar seus tatus na toca certa. Um divertido jogo da memória de uma maneira diferente. Para crianças maiores de 4 anos.
Produzido em tecido plush. Como na natureza, este Tatu esconde a cabeça, cauda e as patas.
Dimensão:
Altura – 17,0 cm
Comprimento – 39,0 cm
REFERÊNCIAS
Carter, T.S. et all. Priodontes maximus (Cingulata: Chlamyphoridae). Mammalian Species 48(932): 21-34. 2015
Castro, M.C. et al. Reassessment of the hairy long-nosed armadillo “Dasypus” pilosus (Xenarthra, Dasypodidae) and revalidation of the genus Cryptophractus Fitzinger, 1856.Zootaxa. 3947 (1): 030-048. 2015.
Capellão, RT. et al. Infecção natural por agentes zoonóticos em tatus (Mammalia: Cingulata) na América do Sul . Bol. Soc. Sutiãs. Mastozool., 73: 23-36. 2015
Superina Mariella. Husbandry of a Pink Fairy Armadillo (Chlamyphorus truncatus): Case Study of a Cryptic and Little Known Species in Captivity. Zoo Biology 30 : 225–231. 2011
Superina Mariella & Abba, A.M. Zaedyus pichiy (Cingulata: Dasypodidae). Mammalian Species 46(905): 1:10. 2014.
Prist. Paula et al. Guia de Rastros de Animais Neotropicais de Médio e Grande Porte. Livro PDF. 248p. 2020
Trovati, RG Diferenciação e caracterização de toca de duas espécies de tatus no Cerrado brasileiro. Revista Chilena de História Natural.88: 19. 2015.
Marina Xavier da Silva
Bióloga graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo – USP. Iniciou sua carreira no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, onde trabalhou por 13 anos, nove deles dedicados à coordenação de um projeto para conservação da onça-pintada no Brasil e Argentina. Mãe da Lia e da Cléo.